Após 13 anos no poder, Evo Morales renuncia à Presidência da Bolívia
O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou
neste domingo (10/11) que renuncia após as Forças Armadas "sugerirem"
que ele deixasse o cargo.
Morales comunicou sua decisão em um pronunciamento
na televisão ao lado de seu vice-presidente, Álvaro García Linera, minutos
depois de as Forças Armadas pedirem que ele abrisse mão de seu mandato para
permitir a pacificação e manutenção da estabilidade do país. García Linera
disse que também deixa seu cargo. "O golpe foi consumado", afirmou.
Pouco antes, o comandante das Forças Armadas da
Bolívia, general Williams Kaliman, divulgou um comunicado em nome do alto
comando em que falava que a saída de Morales seria importante para resolver o
impasse na crise política em que se encontra o país desde as controversas
eleições presidenciais, em 20 de outubro.
A crise que levou à renúncia de Evo Morales
Segundo o comunicado, o pedido foi feito a Morales
levando em consideração "a escalada de conflitos que o país
atravessa", em nome da "vida e da segurança da população" e para
garantir o "império da condição política do Estado, de acordo com Artigo
20 da Lei Orgânica das Forças Armadas e após análise da situação interna de
conflito".
Depois de quase três semanas de protestos nas ruas
contra os resultados que haviam dado a Morales um novo mandato até 2025, o
presidente boliviano anunciou na manhã de hoje novas eleições. Essa medida, no
entanto, não acalmou os manifestantes.
O presidente anunciou a nova votação, embora sem
uma data para que seja realizada, após um relatório preliminar de auditoria da
eleição de outubro feito pela Organização dos Estados Americanos (OEA) apontar
ter identificado várias "irregularidades".
O que disse a OEA?
A OEA determinou ser estatisticamente improvável
que Morales tenha vencido pela margem de 10% necessária para evitar um segundo
turno, conforme determina a lei eleitoral do país.
A auditoria do órgão internacional também encontrou
registros com alterações e assinaturas falsificadas. O relatório de 13 páginas
afirma que, em muitos casos, a cadeia de custódia das atas de votação não foi
respeitada e que houve manipulação do sistema de computador.
Morales anunciou que renovará todos os membros do
Supremo Tribunal Eleitoral, que foram duramente criticados pela forma como foi
feita a contagem dos votos, algo também recomendado pela OEA.
Mas o procurador-geral da Bolívia, Juan Lanchipa,
foi além e deu início a uma investigação por crimes comuns, eleitorais e de
corrupção contra membros do Supremo Tribunal Eleitoral e pessoas envolvidas nos
eventos "irregulares" mencionados pela OEA.
Vários ministros e políticos ligados a Morales já
haviam renunciado, incluindo o ministro de Minas, César Navarro, e o ministro
de Hidrocarbonetos, Luis Alberto Sánchez, além do governador de Cochabamba,
Iván Canelas, entre outros.
O candidato de oposição Carlos Mesa, que ficou em
segundo na eleição de outubro, havia dito que Morales não deveria se candidatar
novamente. Enquanto isso, o líder da oposição em Santa Cruz, Luis Fernando
Camacho, insistiu que Morales deveria renunciar.
O que aconteceu?
No dia das eleições, o Supremo Tribunal Eleitoral
suspendeu subitamente a contagem de votos quando havia uma tendência de segundo
turno entre Morales e Mesa. Quase 24 horas depois, a contagem foi retomada, e o
resultado apontava Morales como vencedor no primeiro turno.
Isso gerou suspeita e desconfiança entre muitos
bolivianos, que começaram a se mobilizar nas ruas e a denunciar o que
consideram uma fraude eleitoral.
Morales, o primeiro presidente indígena e que
estava no poder desde 2006, também convocou seus apoiadores a se mobilizarem e
denunciou uma tentativa de golpe de Estado.
Desde então, houve intensos protestos em todo o
país. Críticos e apoiadores de Morales se enfrentaram nas últimas semanas. A
violência deixou pelo menos três mortos e centenas de feridos.
Os distúrbios policiais foram relatados em vários
lugares, incluindo La Paz, onde a polícia deixou o governo boliviano e a sede
do Legislativo sem proteção. Por sua vez, as Forças Armadas haviam dito que não
agiriam contra os manifestantes.
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