Celulares já mataram 23 no Brasil: especialistas apontam principais vilões na hora do carregamento
Para garantir a segurança, é preciso usar
carregadores originais
A morte de uma adolescente de 14 anos no
Cazaquistão por causa da explosão da bateria de um celular, que ela deixou
embaixo do travesseiro, chamou a atenção dos brasileiros por causa dos riscos
envolvendo os aparelhos. Em 2018, 23 pessoas morreram no país em 41 acidentes
envolvendo carregadores. Os números são da Associação Brasileira de
Conscientização dos Perigos de Eletricidade (Abracopel). Em Minas Gerais, foram
registrados dois incêndios, mas sem mortes. Especialistas alertam que as
pessoas precisam estar atentas a uma série de fatores na hora de carregar os
smartphones e apontam quais são os maiores riscos.
Sediada em São Paulo, a Abracopel trabalha para
identificar as causas do aumento no número de ocorrências envolvendo celulares
no Brasil. “Em 2016 nós registramos um acidente, em 2017 dois, e em 2018
começamos o ano com diversos acidentes. A coisa subiu assustadoramente e foi
quando começamos a avaliar, verificar o que está acontecendo. Ainda é pequeno
se considerar o número de celulares no país, mas vem aumentando
vertiginosamente”, explica o engenheiro eletricista e diretor-executivo da
Abracopel, Edson Martinho.
Com base nas ocorrências levantada pela associação,
Martinho aponta um conjunto de fatores. “O primeiro deles é a utilização de
carregadores não originais. Os mais simples, que são os mais baratos, retiram
um dispositivo de segurança. Se houver aquecimento, excesso de corrente ou
pico, pode levar o celular a aquecer demais, explodir ou transferir a tensão
para o aparelho”.
Nas ruas de Belo Horizonte e outros municípios, não
é difícil encontrar ambulantes ou pequenas lojas comercializando acessórios
piratas para smartphones, principalmente os cabos e carregadores. Para explicar
a diferença entre os equipamentos originais e os alternativos, o diretor da
Abracopel faz uma analogia com as caixas d'água. “Ela tem uma boia e, quando
chega no topo, fecha a entrada de água e não transborda. O carregador do
celular é um limitador de corrente. Quando vai chegando ao final do
carregamento, ele vai diminuindo a carga dentro da bateria”. É possível
observar que quando um celular está conectado à tomada há um aumento de
temperatura, mas quando a carga é completa o equipamento esfria. Segundo
Martinho, os carregadores pirata sem a limitação de corrente continuam mandando
eletricidade para o aparelho, daí o perigo da sobrecarga.
“Dentro do nosso universo de acidentes, computamos
vários envolvendo colocar e retirar da tomada com os pés descalços, e tem as
baterias ou carregadores não originais com aquecimento excessivo. A bateria é
uma bomba relógio. Aquilo vai esquentando, não tem por onde dissipar o calor e vira
uma bomba”, relata o engenheiro eletricista, que também ressalta que é preciso
ter cuidado com a rede dos imóveis. “A parte elétrica tem que ser sempre
revisada, a cada cinco anos pelo menos, não só por causa do celular, mas todos
os equipamentos”, enfatiza.
Na ocorrência no Cazaquistão, Alua Asetkyzy
Abzalbek, que morava em Bastobe, dormia na hora do incidente. De acordo com
informações do Daily Mail, a adolescente foi para a cama escutando música. A
perícia detectou que uma sobrecarga foi a causa do acidente: o telefone estava
conectado à tomada e esquentou até explodir perto da cabeça da adolescente.
Atenção à bateria
O engenheiro de Segurança do Trabalho da Cemig,
Demétrio Aguiar, destaca que a bateria do celular, principalmente em aparelhos
antigos, pode colocar o usuário em risco. “O aparelho tem uma vida útil. Existe
a obsolescência programada, porque daqui a dois anos vai surgir um modelo
melhor. A bateria, que duraria um dia ou um dia e meio começa a durar três ou
quatro horas. Só que algumas baterias não trocam, ficam dentro do aparelho, e
tem também o shopping popular que importa bateria parecida ou paralela que não
tem o mesmo controle do fabricante, tem expectativa menor, não vai funcionar
direito”, analisa.
Ele cita uma situação comum na rotina de usuários
de todas as idades atualmente. “A pessoa fica na rede social muito tempo, liga
o carregador, troca de mão porque está muito quente. A bateria tem uma
quantidade significativa de energia porque o processamento dos aparelhos modernos
é muito intenso, é um minicomputador poderoso”, diz. “Os elementos ficam
prensados dentro da cápsula que é a bateria e tudo que é aquecido se dilata.
Pode ocorrer deformação dessa bateria a ponto de não conter os elementos
químicos dentro e explodir. Ela pode provocar um curto entre os polos que
produzirá centelha suficiente para pegar fogo. A explosão em si já tem o efeito
mecânico de projeção do produto químico atingindo o rosto e as mãos da pessoa.
Pode ter queimadura pelo fogo e pelo elemento químico. Pode ser uma queimadura
grave”, explica Aguiar.
Cuidado com as tomadas
Além de procurar usar assessórios originais e
evitar “esquecer” o aparelho conectado por longas horas ou durante o sono,
Demétrio Aguiar alerta que é preciso se preocupar com onde o smartphone será
carregado, principalmente em locais públicos, como shoppings e aeroportos.
Tomadas com defeitos e instalações elétricas de má qualidade podem danificar o
aparelho, causar choques ou incêndios. “A instalação elétrica tem que ser
revisada, com materiais de boa qualidade. Já precisei de tomada de aeroporto,
você conecta ali e está tão bambo que parece que colocaram algo nos pinos, fica
mal conectado. Há casos em que a pessoa fica segurando o carregador com uma mão
e o aparelho na outra (na tomada). Quando a tomada está com mal contato ele dá
'curto' várias vezes. Isso provoca mal funcionamento do carregador”, avisa.
Assim como Edson Martinho, da Abracopel, Aguiar
reforça que a rede elétrica e as tomadas precisam de manutenção periódica. Ele
ainda recomenda a instalação de um Diferencial Residual (DR) no quadro de
energia das residências. Ele desliga o circuito ao detectar fugas de corrente
elétrica, evitando que as pessoas levem choques.
Veja o que evitar na hora de carregar o celular
- Usar o aparelho ligado à tomada: principalmente
em caso de tempestades com descarga elétrica, o usuário pode levar um choque,
assim como quando sai do banheiro ou da piscina descalço e/ou com o corpo
molhado. O mesmo vale para o carregador portátil (power bank). O uso do celular
conectado à tomada pode gerar um superaquecimento e até explodir a bateria. Se
precisar usar, desconecte o aparelho. Também evite as extensões
- Carregar o celular em lugares com água ou objetos
inflamáveis: não se pode deixar o celular carregando sobre superfícies em
contato com a água, como banheiros e cozinhas, e propícios a incêndios, como as
camas, banco do carro, perto de cortinas, objetos de madeira ou outros que
propaguem fogo. Escolha superfícies lisas e em locais arejados
- Usar acessórios piratas: os produtos não costumam
ter itens fundamentais para a segurança de quem usa e não têm controle de
qualidade. Falhas internas podem gerar curto circuito e o barato acaba saindo
caro
- Carregar o celular com a capinha: a capa dos
aparelhos acaba fazendo o papel de um cobertor, impedindo a troca de
temperatura do aparelho com o ambiente, resultando em superaquecimento, que
pode causar incêndio ou explosão
- Usar celular muito aquecido: alguns aparelhos
costumam esquentar durante o uso, mesmo sem estar conectados a um carregador.
Nesse caso, a pessoa pode usar um app que suspende ações em segundo plano. Se
não resolver, desligue o aparelho, tire a capinha ou até retire a bateria se possível.
Quando a temperatura normalizar, volte a usar- Tomadas com defeito: o contato
pode danificar o aparelho ou causar choque elétrico. Fonte: Cemig e Abracopel
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