Em 15 estados, PT se alia a partidos que apoiaram impeachment
Petistas fecham alianças em 15 Estados para lançar
candidatos próprios ou apoiar siglas acusadas antes de ‘golpe’ contra Dilma;
legenda diz não ver contradição.
Apesar do discurso de que Dilma Rousseff foi vítima
de um “golpe”, o PT se aliou em 15 Estados a partidos que apoiaram o
impeachment da presidente cassada em 2016 e integraram o governo Michel Temer.
Levantamento feito pelo Estado mostra que o PT será cabeça de chapa ao governo
nas eleições 2018 em seis Estados em coligações com partidos que foram
favoráveis ao impedimento. Na mão inversa, outros nove candidatos a governador
de siglas que votaram pelo afastamento de Dilma vão ter o apoio do PT.
Desses nove, há filiados ao MDB, PSD, PTB, PR e
Rede. Outros quatro são do PSB, partido que em 2016 orientou voto favorável ao
afastamento da presidente cassada. Agora, porém, o PSB – que sempre foi um
aliado histórico dos petistas – fechou acordo nacional com o PT para não apoiar
formalmente nenhum candidato à Presidência.
A neutralidade do PSB isolou outro postulante ao
Palácio do Planalto que disputaria votos no campo de esquerda, o ex-ministro
Ciro Gomes (PDT). Na prática, o PT espera uma adesão à candidatura do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, ou a
seu possível substituto, o ex-prefeito Fernando Haddad, por parte da maioria
dos diretórios do PSB.
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi
Hoffmann (PR), negou que haja contradição entre as conveniências eleitorais do
partido e o discurso da direção. “Não há (contradição) porque estamos deixando
claro que eles têm de apoiar Lula. Em todos esses casos, tem apoio a Lula e uma
autocrítica inclusive.”
O PT terá seis candidatos próprios a governador com
chapas amplas, integradas por partidos que foram ou ainda permanecem aliados a
Temer: Marcus Alexandre (Acre), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará),
Wellington Dias (Piauí), Fernando Pimentel (Minas Gerais) e Fátima Bezerra (Rio
Grande do Norte).
O caso do Ceará é emblemático. A contragosto da
cúpula, o PT local rifou a candidatura à reeleição do senador José Pimentel
para não atrapalhar os planos do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB),
candidato à reeleição. Os partidos vão se aliar informalmente, num acordo que
também envolve palanque para Ciro Gomes, ex-governador do Estado, e seu irmão
Cid Gomes, o outro candidato ao Senado na chapa.
Pimentel. Em Minas Gerais, a presença de Dilma como
candidata a senador é apontada como um óbice à aliança do MDB local com o
governador Fernando Pimentel, pré-candidato à reeleição. “Ela não quer perto
dela nenhum golpista. Em Minas, eles foram sempre acolhidos pelo governo do
Pimentel, mas todos os deputados federais voltaram contra ela no impeachment”,
disse o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG). “A diferença é histórica. O
MDB é, na sua essência, golpista.” Mesmo assim, o PR, da base de Temer e nacionalmente
coligado ao tucano Geraldo Alckmin, aliou-se ao petista.
Em Sergipe, o governador Belivaldo Chagas (PSD)
disputará a reeleição com Eliane Aquino (PT) como candidata a vice. O partido
do ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) abandonou Dilma na véspera
do impeachment e logo aderiu a Temer, mantendo uma representação ministerial –
Kassab era ministro das Cidades de Dilma. À época, Chagas era filiado ao MDB e
vice do ex-governador Jackson Barreto, candidato a senador. Eles foram contrários
ao impeachment, quando a oposição se articulava no Congresso.
O PT também faz parte da coligação do governador de
Alagoas, Renan Filho (MDB). O posicionamento do MDB pelo afastamento de Dilma
teve o voto do pai dele, o então presidente do Senado, Renan Calheiros
(MDB-AL). O senador, porém, articulou a manutenção dos direitos políticos de
Dilma na sessão que sacramentou a cassação de seu mandato. O PT chegou a romper
com Renan Filho, mas a postura do senador em oposição a Temer e os votos de
ambos declarados a Lula selou uma reaproximação. Os Calheiros rechaçam apoiar o
candidato do MDB a presidente, Henrique Meirelles. “O Renan teve um
reposicionamento nessas questões que interessam ao campo progressista e
popular”, disse Gleisi.
‘Prioridades’. Em Mato Grosso, o senador Wellington
Fagundes (PR), que votou favoravelmente ao impeachment, mas contra a suspensão
dos direitos políticos de Dilma, conseguiu uma aliança com o PT para disputar o
governo do Estado. A coligação inclui também, entre outros, PMN, PROS e PRB.
Segundo o presidente do PT estadual, deputado
Valdir Barranco, como não foi possível fechar um acordo que reunisse siglas de
centro-esquerda, o partido teve de pensar em “suas prioridades”. “A política
está em permanente mudança. Neste momento, a melhor tática é essa. Sem o
‘chapão’, não teríamos cociente eleitoral para eleger deputados.” / COLABORARAM
TÉO CURY, RICARDO GALHARDO, JONATHAS COTRIM, KATNA BARAN, KLEBER NUNES, FILIPE
STRAZZER e ANA BEATRIZ ASSAM
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