EXCLUSIVO: FHC pediu PROPINA a Marcelo Odebrecht para financiar campanha
Em e-mails, ex-presidente solicitou dinheiro ao
empreiteiro Marcelo Odebrecht e insistiu por ‘ajuda’ em campanhas do PSDB ao
Senado em Mato Grosso e Pará.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
pediu diretamente ao empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do
grupo que leva seu sobrenome, propina para candidatos do PSDB nas eleições de
2010. Mensagens localizadas pela Polícia Federal (PF) na caixa de e-mail de
Odebrecht e anexadas nesta terça-feira, 5, a um dos processos da Operação Lava
Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostram que FHC solicitou
ao empreiteiro que “ajudasse” as campanhas de Antero Paes de Barros e Flexa
Ribeiro, candidatos ao Senado naquele ano por Mato Grosso e Pará,
respectivamente. Foi a defesa de Lula que pediu à PF a inclusão das mensagens
na ação. FHC diz que o pedido “era legal”.
Em um e-mail cujo assunto é “pedido”, datado de 13
de setembro de 2010, Fernando Henrique escreveu a Marcelo Odebrecht para
lembrar o empreiteiro sobre uma demanda que já havia feito a ele em um jantar,
dias antes. “Envio-lhe um SOS”, apelou FHC, ressaltando que Paes de Barros
estava em segundo lugar na corrida por uma cadeira de senador e enfrentava a
“pressão do governismo, ancorada em muitos recursos”. Por fim, o ex-presidente
passou a conta-corrente da campanha do tucano.
“Meu caro Marcelo: Recordando nossa conversa no
jantar de outro dia, envio-lhe um SOS. O candidato ao senado pelo PSDB, Anrtero
[sic] Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do
governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível
ajudá-lo? Envio abaixo os dado [sic] bancários: Eleição 2010, Antero Paes de Barros
Neto -senador, Banco do Brasil, agência 3325-1, conta corrente 31801-3, CNPJ
12189840/0001-23”, indicou.
Menos de uma hora depois, Marcelo Odebrecht
respondeu a FHC, tranquilizou-o e prometeu dar um feedback sobre as
colaborações que a Odebrecht já havia feito a pedido do ex-presidente.
“Presidente, Estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique
tranqüilo [sic] (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o
feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos”,
escreveu o empreiteiro.
No dia seguinte ao contato eletrônico de Fernando
Henrique Cardoso, Odebrecht enviou um novo e-mail ao tucano para relatar que já
havia encaminhado o pedido de ajuda a Antero Paes de Barros. “Presidente, Ja
solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua
disponibilidade para lhe apresentar um balanço”, resumiu o empresário.
Uma semana depois, em mensagem eletrônica
intitulada “o de sempre”, FHC insistiu com Marcelo Odebrecht sobre os candidatos
tucanos que “precisam de atenção” e incluiu o nome do senador Flexa Ribeiro. No
e-mail, endereçado também ao empresário Benjamin Steinbruch, da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), o ex-presidente se dirige aos interlocutores como
“estimados amigos”.
“Estimados amigos: desculpem a insistência e nem
mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois
possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato
Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso
na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito”, pediu o tucano.
A confirmação de que a doação, ou “apoio”, como diz
Odebrecht, a Antero Paes de Barros seria mesmo feita veio no dia seguinte.
“Presidente, Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apóia-lo.
Flexa não sei dizer, mas vou verificar”, respondeu.
Conforme o laudo da PF, a troca de e-mails “o de
sempre” foi apagada do e-mail de Marcelo Odebrecht e só foi recuperada “com
auxílio de ferramenta pericial”.
Embora Fernando Henrique Cardoso tenha informado ao
empreiteiro sobre a conta-corrente oficial da campanha de Antero Paes de Barros
e Marcelo Odebrecht tenha confirmado que faria a doação, não consta na
prestação de contas eleitoral do então candidato nenhuma colaboração da
Odebrecht ou de empresas que compõem o grupo. A empreiteira também não está
entre os doadores da campanha de Flexa Ribeiro.
FHC foi citado na delação premiada de Emílio
Odebrecht, pai de Marcelo, que relatou supostos pagamentos de caixa dois a
campanhas do tucano nos anos pré-eleitorais de 1993 e 1997. Em julho de 2017, a
Justiça Federal de São Paulo arquivou a investigação sobre os supostos delitos.
Outro lado
A assessoria de imprensa de Fernando Henrique
Cardoso informou inicialmente que ele se recupera de uma internação para tratar
de um problema intestinal e não comentaria o conteúdo dos e-mails a Marcelo
Odebrecht. Na noite desta quarta-feira, a assessoria enviou uma nota em que FHC
afirma que o pedido “era legal”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não se deram
e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos
governos, da República e do estado”.
Antero Paes de Barros, que foi senador entre 1998 e
2006 e não se elegeu em 2010, afirma que não recebeu ajuda financeira da
Odebrecht em sua campanha e não teve nenhum contato com representantes da
empreiteira naquele ano. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele registrou
1,7 milhão de reais em doações na eleição de 2010.
O senador Flexa Ribeiro, eleito em 2010, disse, por
meio de sua assessoria, que desconhece o pedido e que não recebeu nenhuma
contribuição da empresa.
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