Sérgio Cabral já responde a mais processos do que chefões do tráfico do Rio
Ex-governador
fluminense foi condenado a 14 anos de prisão e responde a outras 14 ações
penais
“Fernandinho
Beira-mar”, chefão de facção carioca, acumula condenações em 12 processos.
Sérgio
Cabral Filho (PMDB), ex-governador do Rio de Janeiro e atual detento do
Complexo Prisional de Benfica, já responde a mais processos do que os
principais chefões do tráfico fluminense. Cabral foi condenado a 14 anos e dois
meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro e ainda enfrenta 14 processos na 7ª Vara
Federal Criminal do Rio, onde é julgado pelo juiz Marcelo Bretas. Documentos da
Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro mostram que os principais
traficantes da região foram condenados em menos processos do que o
ex-governador enfrenta.
Quando
era governador, uma das bandeiras de Cabral era transferir esses chefões do
tráfico para penitenciárias federais para evitar ataques e rebeliões. Entre os
principais chefões do tráfico do Rio, Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho
Beira-mar” da facção carioca Comando Vermelho, é quem acumula mais condenações.
"Beira-mar" já foi punido em 12 ações penais. Na última sentença, em
2015, recebeu pena de 120 anos de prisão por comandar a morte de desafetos na
cadeia. Somados todos os casos, o traficante já foi condenado a 272 anos e dois
meses de prisão.
Hoje, cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio
Grande do Norte. Outro chefão do Comando Vermelho, Isaías da Costa Rodrigues, o
“Isaías do Borel”, já foi condenado em seis processos a 61 anos e 11 meses de
prisão. Ele está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Da
mesma facção carioca, Márcio dos Santos Nepomuceno, o “Marcinho VP”, preso na
Penitenciária Federal de Mossoró, acumula 66 anos e 10 meses de prisão por seis
processos.
Da
favela da Rocinha, que Cabral já chamou de "fábrica de produzir
marginal", o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o “Nem da
Rocinha”, acumula condenações a 123 anos e quatro meses de prisão por nove
processos.
Ele é um dos chefes da facção Amigos dos Amigos (ADA), rival do
Comando Vermelho, e está preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, em
Rondônia. O traficante da ADA foi preso em novembro de 2011, na véspera da
instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) que era anunciada como
a solução para a violência no local.
Hoje,
a luta de Cabral é não encontrar esses traficantes na prisão. Se Bretas
mantiver com Cabral o rigor adotado com o ex-presidente da Eletronuclear, Othon
Silva, condenado a 43 anos de prisão, o ex-governador pode acumular condenações
a mais de 300 anos de cadeia. Cabral já é de longe o réu que responde a mais
ações penais na Operação Lava Jato. Apesar do risco de condenações, ele ainda
não adotou uma estratégia jurídica consistente para ser inocentado nos
processos na Justiça Federal do Rio de Janeiro. Em uma audiência recente, ele
negou que tenha recebido propinas e alegou que o dinheiro era apenas “caixa
dois de campanha”.
Quem
conhece o ex-governador ainda vê certa empáfia em sua estratégia. Contribui
para isso a situação de Cabral na cadeia, onde ele não recebeu tratamento tão
rigoroso como outros detentos. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
abriu inquérito para investigar regalias concedidas a ele no presídio de Bangu
8, onde ele ficou detido entre novembro do ano passado e maio deste ano. Desde
então, foi transferido ao antigo Batalhão Especial Prisional, no Complexo de
Benfica, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde ficavam presos ex-policiais. Por
lá, de acordo com promotores, ele conseguiu a proteção do único ex-policial
militar ainda preso no local. A julgar pela expectativa de condenações, Cabral vai precisar de guarda-costas na
cadeia por muito tempo.
Fonte: brasil.elpais.com
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