Se eu for condenado, não vale a pena ser honesto no Brasil, diz Lula
Prestes a ser condenado ou
absolvido pelo juiz federal Sérgio Moro no caso do triplex no Guarujá (SP), o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira em
entrevista à rádio Itatiaia, de Minas Gerais, que "se tiver uma decisão
que não seja a minha inocência, quero dizer que não vale a pena ser honesto
nesse País".
O petista afirmou que fez de
tudo para provar a inocência e disparou contra os procuradores da República,
que o interrogaram em Curitiba (PR), na presença de Moro, em meados de maio:
"Eu fui em uma audiência, os procuradores estavam lá, eles tiveram a
chance de acusar e mostrar alguma prova. Não mostraram absolutamente
nada".
— Sinceramente, se tiver uma
decisão que não seja a minha inocência, quero dizer que não vale a pena ser
honesto nesse país e quero dizer que não vale a pena você ser inocente. Porque
ser inocente é não dar aos acusadores o direito de prova e eles ficam nervosos
e vão te acusar mesmo que não tenham provas.
O ex-presidente voltou a
confrontar a versão do Ministério Público Federal, que afirma que o apartamento
triplex pertence à família de Lula e foi fruto de propina de empreiteiras que
mantiveram contratos fraudulentos com a Petrobras.
— Desafio o Ministério Público
a provar que o apartamento é meu, que tem um documento, que tem um centavo, que
tem um real, que tem um documento assinado, que tenha alguma coisa no
cartório... eu continuo desafiando o Ministério Público a apresentar uma prova,
porque não é possível que eu tenha um apartamento que não é meu. [...] Quero
saber depois da decisão o que vai acontecer.
O petista aproveitou para
comentar a decisão de ontem do juiz Sérgio Moro, de condenar o ex-ministro
Antônio Palocci a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de
dinheiro. Para Lula, as delações premiadas não podem ser usadas como prova
exclusivamente.
— A delação não pode ser
avacalhada. A delação é um instrumento sério, que fomos nós que aprovamos.
[...] O Palocci foi condenado ontem. Não tem nenhuma prova a não ser a delação.
Então, fica palavra contra palavra e a pessoa não pode ser condenada por isso.
As delações precisam ser transformadas em coisas concretas.
Denúncia contra Temer
Lula defendeu também que o
presidente Michel Temer (PMDB), denunciado na segunda-feira pela PGR
(Procuradoria Geral da República) por corrupção passiva renuncie e peça a
antecipação de eleições presidenciais diretas imediatamente. Para o petista,
Temer deve ou não tomar essa decisão a "depender da pressão" da sociedade.
— O ideal seria um processo
mais tranquilo e que o próprio Temer pudesse pedir a antecipação das eleições e
a gente poderia escolher, antes de outubro de 2018, um novo presidente da
República, um novo Congresso Nacional. Eu defendo as diretas imediatamente.
Réu em cinco ações penais por
corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça, Lula afirmou que é
preciso investigar o que há contra o presidente para "saber se são
verídicas as denúncias".
— O Temer pode cair, mas um
processo qualquer que aconteça contra um presidente ou contra qualquer ser
humano precisa ser investigado. Se tiver provas concretas, efetivamente o Temer
não tem como continuar.
Lula disse, ainda, que não se
arrepende de ter feito aliança com o PMDB enquanto estava na Presidência.
— No momento, era extremamente
necessário e eu não tinha bola de cristal para saber que o Temer ia dar golpe
na Dilma e ajudar a fazer o impeachment.
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