Caso Celso Daniel: Sugem novas provas e procurador cita suspeita de mais mandantes
O procurador de Justiça Edílson Mougenot Bonfim citou
suspeitas da existência de outros mandantes do assassinato do ex-prefeito de
Santo André Celso Daniel (PT), ocorrido em 2002, no pedido de retomada das
investigações endereçado ao chefe do Ministério Público de São Paulo,
procurador-geral Gianpaolo Poggio Smanio. Folha da Política teve acesso ao
ofício elaborador por Bonfim, até
então mantido em sigilo. Ele sugere que a denúncia criminal pode ser ampliada
para apontar novos responsáveis pela morte.
Em
reunião de cúpula do MP, o material foi encaminhado pelo procurador-geral
Smanio ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). A
unidade do Gaeco no ABC paulista mantém um inquérito aberto desde 2005 para
apurar “eventuais partícipes” na morte de Celso Daniel.
“Surgiram ‘provas novas’ desconhecidas à época
das primitivas investigações, de modo a justificar uma nova frente
investigatória para a completa elucidação do crime que vitimou Celso Daniel,
especialmente no que se refere à apuração de outro(s) eventua(l)is
mandantes”, escreveu o procurador.
Bonfim foi chamado a dar
parecer em uma apelação criminal do réu Elcyd Oliveira Brito, um dos seis
condenados pelo crime. O recurso corre em segredo de Justiça. No documento, ele
cita nominalmente o ex-secretário municipal da gestão Celso Daniel
Klinger Luiz de Oliveira Souza e o empresário do ramo de transportes Ronan Maria
Pinto, ambos condenados por corrupção em primeira instância.
Na
peça, Bonfim faz alusão, entre outros fatos, à revelação do operador do
mensalão Marcos Valério de um empréstimo para calar Ronan Maria Pinto, que
estaria chantageando o ex-presidente Lula, e os ex-ministros José Dirceu e
Gilberto Carvalho. Ronan ameaçava envolvê-los no crime, conforme Valério
afirmou ao Ministério Público Federal em 2012. A Operação Lava-Jato revelou que
o amigo de Lula e empresário José Carlos Bumlai levantou recursos para repassar
6 milhões de reais a Ronan.
O
procurador também afirma que a Lava-Jato mostrou “fatos criminosos no país
referentes à corrupção institucionalizada, ao crime organizado, em modelo de
conduta ou organização semelhante, análogo ou vinculado ao que se praticava em
Santo André quando do homicídio do então prefeito Celso Daniel”. Em outro
trecho, ele afirma como justificativa para a abertura de uma nova linha
apuratória “a possibilidade do ‘hibridismo’ dos partícipes (troca de posições
nas organizações criminosas) e, especialmente, as ramificações de referida(s)
organização (ões), cujas ações nefastas conjugavam interesses partidários e
palacianos ao de empresariados locais, ensejando poder a uns, dinheiro a outros
e poder e dinheiro a alguns outros”.
“Pela
logística do crime de homicídio que vitimou Celso Daniel com o necessário
emprego de vultosos recursos e engenhosos meios, baseado no surgimento de
provas novas e, ainda, lastreado em ‘máxima de experiência’, ousamos dizer que
há a fundada suspeita de que tenha havido um número maior de mandantes além
daquele apontado inicialmente nos autos. Considerando, por fim, outras
suspeitas, possivelmente fundadas, que vinculam aos fatos Ronan Maria Pinto e Klinger
de Oliveira Souza, dentre outras pessoas que não necessitam neste momento serem
mencionadas, mas que, identificáveis em outros autos, documentos e mídias e
que, eventualmente confirmadas, podem sujeitar à responsabilização penal pelo
aditamento da inicial acusatória”, escreveu Bonfim.
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