O Hospital Vargas foi o
primeiro grande hospital de Caracas e um dos pioneiros em transplantes na
América Latina. Hoje, apenas uma das salas tem ar condicionado – a chamada sala
VIP, onde “protegidos” do regime se internam após cirurgias plásticas. Todo o
resto do hospital está repleto de animais, principalmente cachorros e gatos,
que comem o lixo nos corredores escuros.
Localizado no centro de Caracas, o Vargas é vigiado
pela milícia bolivariana e também por colectivos, grupos paramilitares chavistas.
Para que um estrangeiro possa entrar, é preciso desviar de praticamente
qualquer olhar suspeito. Os últimos, além de vigiar o hospital, tratam de
ameaçar médicos que não conseguem realizar um procedimento que eles precisem
por falta de insumos. O clínico geral Alfredo Villarroel, de 33 anos, está há
mais de uma década no hospital “Sou um dos poucos que nunca sofreu ameaças, sou
uma exceção. Todos os meus colegas relatam haver sido ameaçados com armas na
emergência, outro que levo uma coronhada de outro”, diz.

Não à toa, do outro lado da rua há uma farmácia e uma loja de equipamentos cirúrgicos. Para serem atendidos, os pacientes precisam levar absolutamente tudo: luvas, uniforme cirúrgico, gaze, anestésicos, material para sutura, e o que mais precisarem. Na emergência, pacientes recém-chegados são internados em uma sala que mais parece uma sauna. No banheiro, médicos são obrigados a urinar em garrafas porque a descarga não funciona.
Procedimentos simples, como a realização de um
eletrocardiograma em uma paciente que chegou com dores no peito, se transformam
em uma epopeia. Durante o atendimento, presenciado pela reportagem da Folha da
Política, a paciente buscou panos para cobrir a maca e poder deitar-se. O
médico conseguiu água oxigenada e uma gaze para limpar o aparelho (não existe
álcool no hospital). Depois de conferir o rolo de papel do sucateado aparelho,
o exame saiu em branco. A paciente, que se queixava de ansiedade, saiu ainda
mais nervosa – sem saber se deve ou não se preocupar com as tais dores.